O pioneiro que fez história

Victor Fardin
4 min readFeb 25, 2021
Kazuyoshi Miura, aos 53 anos, jogando pelo Yokohama FC (Foto: Reprodução/site oficial do Yokohama FC)

Hoje, sexta-feira dia 26 de fevereiro, um ícone do futebol japonês está fazendo aniversário. Não estou falando de Shinji Kagawa ou Keisuke Honda, ou até de jogadores anteriores como Shunsuke Nakamura ou do lendário Kunishige Kamamoto. O aniversariante é o atacante Kazuyoshi Miura, ou simplesmente Kazu, que completa 54 anos e, por incrível que pareça, ainda está jogando profissionalmente. Mesmo disputando apenas 6 partidas na última temporada, o veterano renovou o seu contrato com o Yokohama FC, clube onde joga desde 2005. Porém, o início da sua história, se passa no Brasil, em alguns anos atrás.

Em 1982, Kazu viajou sozinho para o nosso país em buscar de se tornar profissional em São Paulo. Com apenas 15 anos, ele foi integrado as categorias de base do Juventus da Mooca, clube situado na Zona Leste da capital paulista. Quatro anos mais tarde, ele foi negociado com o Santos, onde assinou o seu primeiro contrato como jogador de futebol. Lá, ele teve poucas oportunidades, sendo emprestado algumas vezes para times como Palmeiras, Matsubara-PR, CRB e XV de Jaú. Nesse último, o japonês teve mais destaque, marcando 2 gols em 25 partidas e permanecendo na equipe até 1988. Com esse desempenho, Kazu foi para o Coritiba, onde viveu o seu melhor momento no Brasil. Anotou 7 gols em 21 jogos e foi campeão paranaense, o que rendeu uma volta ao Santos em 1990.

O ainda jovem Kazu Miura jogando pelo Coritiba, onde viveu seu melhor momento no Brasil (Foto: Reprodução/Twitter/@japaofcbr)

Entretanto, mesmo com o samurai conseguindo se firmar no futebol brasileiro, o Japão, nesta época, estava começando a se profissionalizar, principalmente após a chegada do craque Zico, que atuou no Sumitomo Metals, atual Kashima Antlers, de 1991 a 1994 e atraiu os olhares de muitos patrocinadores para a liga. Dessa forma, o Verdy Kawasaki, financiado pela empresa de automóveis e atualmente Tokyo Verdy, contratou Kazu para jogar inicialmente na Liga Japonesa de Futebol, até a criação da J-League, que teve a sua primeira edição disputada em 1993.

De volta a “Terra do Sol Nascente”, Kazu viveu seu auge físico e técnico atuando pelo Verdy Kawasaki. Ao todo, após 8 anos no clube, com uma rápida passagem pelo Genoa, da Itália, na temporada 1994/1995, ele marcou 133 gol em 253 jogos, sendo muito vitorioso no período. Conquistou 4 ligas nacionais, foi tricampeão da Copa da Liga Japonesa e venceu a histórica Copa do Imperador. Em 1999, quando o japonês já tinha completado 32 anos, ele foi vendido ao Croatia Zagreb, hoje Dinamo Zagreb, onde não teve muito espaço (atuou em apenas 12 jogos), fazendo com que ele voltasse ao Japão no mesmo ano, agora para jogar pelo Kyoto Purple Sanga. No novo clube, Kazu continuou a marcar os seus gols, anotando 24 gols em 51 partidas, o que rendeu a ele uma transferência ao Vissel Kobe. Na equipe que tem hoje o craque Andrés Iniesta, o samurai ficou por 4 temporadas, até ir para o Yokohama FC, time que ele defende as cores até hoje.

Pela seleção japonesa, ele marcou 55 gols em 89 partidas, defendendo as cores do seu país durante dez anos (1990 a 2000). Sua primeira competição foram os Jogos Asiáticos de 1990, onde estreou contra a seleção de Bangladesh. Seu primeiro e único título foi a Copa da Ásia de 1992, torneio esse que Kazu foi eleito o melhor jogador.

Nas eliminatórias para a Copa do Mundo nos Estados Unidos, o Japão ficou a um gol de se classificar, após empatar em 2x2 com o Iraque na última rodada. Já na edição seguinte, os samurais se classificaram para a competição em 1998, inclusive com Kazu marcando 14 gols na campanha que garantiu a vaga pela primeira vez na história do país. Porém, por conta de uma briga com o treinador da seleção na época, ele ficou de fora da lista final dos convocados, perdendo assim a chance de jogar o principal torneio de nações do mundo. Mas, isso apenas no futebol, pois, surpreendentemente, quando já tinha 45 anos, o japonês disputou a Copa do Mundo de Futsal em 2012 representando o seu país, atuando em 4 partidas, mas sem marcar nenhuma gol.

Kazu Miura na época em que era jogador e capitão da seleção japonesa (Foto: Reuters)

Nessas últimas 16 temporadas atuando pelo Yokohama FC, Kazu marcou somente 27 gols, um número completamente normal para um jogador muito veterano como ele. Porém, um desses gols foi especial. Em março de 2017, o atacante fez 1x0 para a sua equipe, gol esse que deu a vitória sobre o Thespakusatsu Gunma pela J2 League, e se tornou o atleta mais velho a marcar profissionalmente na história, quebrando o recorde do lendário Stanley Matthews.

Por essas e outras façanhas, Kazuyoshi Miura merece ser respeitado e enaltecido sempre. Seu pioneirismo de atravessar o mundo e desembarcar no Brasil para realizar o seu sonho de se tornar um jogador profissional com certeza serviu de exemplo para milhares de japoneses. Se hoje o Japão exporta muitos atletas ao futebol europeu, é muito por conta do desenvolvimento do esporte no país, que foi impulsionado lá no início por lendas como o atacante. A nova temporada da J1 League está para começar e os olhares do mundo estarão voltados para assistir o veterano, torcendo para ele marcar mais um gol e fazer ainda mais história. Vida longa à Kazu!

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Victor Fardin

Capixaba, estudante de jornalismo da PUC-SP e redator do projeto “Esporte em Pauta”